quarta-feira, 29 de abril de 2009

Negrinha - Monteiro Lobato


Negrinha era uma órfã de sete anos. era mulata escura e não preta, de cabelos enrolados e olhos assustados.
Nasceu na senzala, de uma mãe escrava e viveu seus anos de vida num canto da cozinha no escuro, mal cuidada. Sempre escondida, por que na verdade a patroa não gosta muito de criança. Ela era uma senhora rica, cheia de mimos por toda a cidade e como diziam aquela época, com lugar no céu garantido. Ficava quase o dia todo bordando em sua cadeira com suas amigas a discutir tudo, ela odiava o choro de criança, isso lhe deixa com os nervos a toda. É viúva e sem filhos, por isso não gostava nem um pouco dos filhos escravos que choravam sem parar e ela logo dava um berro dizendo, quem é a peste que fica berrando o tempo todo, a mãe da criança ficava desesperada tampando sua boca com o paninho para ela não ouvir mais.
Negrinha cresceu assim, fraca, magra, com fome, assustada e órfã. Sua mãe morreu quando ela tinha quatro anos e ela ficou por ali sozinha sem sabem nada. Sempre a machucavam ali, batiam nela sem ração nenhuma, as vezes por uma palavra que o faziam até rir. Ficava o dia todo sentada no seu canto, porque tinha medo de andar e estragar as plantas sua patroa logo dizia, senta ai e fica sem bico, lá ficava negrinha horas e horas e ela voltava a dizer, braços cruzados já, diabo. E negrinha ali ficava.
Ela não fazia a mínima idéia do que significava carinho, ela nunca teve, as únicas palavras que teve foram, peste, diabo, trapo, lixo..
Ela era tatuada por roxos e vergões, batiam nela todos os dias, sem ou com motivos.
Dona Inácia, era craque em judiar dos outros, ela achava o fim negro ser igual a branco, mais a coisa que ela mais tinha prazer em fazer era dar com a varinha flexível, cortante e para doer, bater na negrinha.
Uma vez negrinha, estava na cozinha, comendo seu almoço que já é muito pouco, até que a nova empregada chegou e roubou um pedacinho, e negrinha logo deu um berro dizendo “peste”, a patroa chego ficou tão braba que mandou esquentar um ovo, daqueles pelando e colocou na boca da negrinha, ela quase morreu coitadinha, não poderia fazer nada..
Em um dezembro duas sobrinhas da patroa foram passar as férias na casa dela, chegaram lá com bonecas de porcelana tudo lindo e ficaram apenas olhando negrinha que ficou em seu canto, como sempre. As meninas brincavam e brincavam e no balanço da brincadeira negrinha foi para lá brincar também, mais loco ouviu, já pro teu canto peste, não te enxerga? E negrinha com lagrimas nos olhos voltou pro seu canto de sempre.
Um das meninas pediu para sua tia quem era, e a tia disse uma caridade minha como sempre. Logo negrinha viu uma coisa com cabelos amarelos e que fala, ficou encantada, logo foi pedir se ela era feita, a menina riu da cara dela e pediu, não conhece boneca, a negrinha repetiu a palavra boneca e as meninas riram e falaram como é boba. Logo ficaram amigas e brincaram juntas. Acabaram as férias, as meninas foram embora e levaram com elas a boneca, negrinha caiu numa tristeza muito grande, de tão fraca negrinha ficou doente e teve febre que logo a matou.
Morreu e ali ficou, sozinha, abandonada por todos, mas morreu sonhando com suas bonecas que nunca teve. E a negrinha deixou apenas duas coisas na terra, uma foi a visão engraçada na cabeça das meninas e outra a saudades da Dona Inácia de dar algumas palmadas naquela menina.






Caroline Canale, Matheus e Eduardo.

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