quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Homens ou Ocos?

Nós somos os homens ocos e empalhados que uns nos outros se amparam e com um elmo cheio de nada,mas ai de nós! Nossas vozes dissecadas que quando juntos sussurramos são quietas e inexpressas, como o vento na relva seca ou pés de ratos sobre os cacos em nossa adega evaporada.

Fôrma sem forma, sombra sem cor, força paralisada, gesto sem vigor e aqueles que atravessaram de olhos retos para o outro reino da morte nos recordam (se o fazem) não como violentas almas danadas, mas apenas como os homens ocos empalhados.

Os olhos que temo encontrar em sonhos no reino de sonho, da morte não, aparecem, mas lá os olhos são como lâmina do sol, nos ossos de uma coluna e uma árvore brande os ramos, as vozes estão no frêmito do vento,que está cantando, mais distantes e solenes que uma estrela agonizante.

Que eu não me aproxime demais do reino de sonho da morte, que eu possa trajar ainda esses tácitos disfarces: pele de rato, plumas de corvo e estacas cruzadas. E comportar-me num campo como o vento se comporta, mas nem mais um passo (não neste encontro derradeiro) no reino crepuscular.

Esta é a terra morta do cacto, aqui as imagens de pedra, que estão eretas, recebem a súplica mão de um morto sob o lampejo de numa estrela agonizante e nisto consiste o outro reino da morte: despertando sozinhos a hora em que estamos trêmulos de ternura e os que beijariam rezam a pedras quebradas.

Os olhos não estão aqui e não brilham neste vale de estrelas tíbias este que é desvalido e esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos. Neste últimos, sítio de encontros juntos tateamos todos à fala esquivos reunidos na praia do túrgido rio.

Sem nada ver, a não ser que os olhos reapareçam como a estrela perpétua e a rosa multifoliada do reino em sombras da morte cujaé única esperança de homens vazios.

Aqui rondamos a figueira brava, às cinco em ponto da madrugada. Entre a ideia e a realidade, o movimento e a ação tomba a Sombra, porque Teu é o reino. Entre a concepção e a criação, a emoção e a reação tomba a Sombra, a vida é muito longa. Entre o desejo e o espasmo, a potência e a existência, a essência e a descendência tomba a Sombra, porque Teu é o reino.

Assim expira o mundo, não como uma explosão, mas como um suspiro.


Caroline R. e Rogério

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